segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cotidiano de um agente penitenciário Evaristo de Moraes

O homem que sai de casa para passar o dia no lugar onde ninguém quer viver: um presídio.
O agente penitenciário Luiz Paulo da Silva começa um plantão no presídio Evaristo de Moraes, no Rio de Janeiro. Na entrada, é obrigado e mostrar a roupa para um companheiro, além de deixar o armamento na portaria, antes de trocar de roupa e começar o serviço.
“Dizer que eu gosto, que isso aqui é o melhor emprego do mundo, não tem como... Agora, enquanto estou aqui faço o que tenho que fazer com gosto. Não trabalho angustiado, nem amargurado, com raiva de estar aqui”, explica Luiz.
Luiz Paulo segue explicando as suas funções: “Toda vez antes de começar o banho de sol é feita uma revista minuciosa para saber se não foi jogado algum objeto que pode se voltar contra a gente, uma arma ou droga. Aí a gente manda liberar os internos. Eles também são revistados antes de entrar”.
O perigo faz parte da rotina do agente penitenciário: “Pra eles atentarem contra nossa vida é muito fácil, nós somos apenas três aqui. A gente está aqui é pra isso mesmo. Se agarrar a gente aqui não é por causa disso que vai abrir o portão lá. Nós estamos preparados para isso e os colegas de lá estão preparados para trancar a porta com a gente aqui dentro, se for necessário. É uma vida perigosa, mas é o que no momento a gente escolheu”.
Chega a hora do almoço. “A gente vai abrindo de uma em uma cela, aí eles vão saindo, e cada um vai se servindo”.
Luiz Paulo mostra onde acontece a visita íntima dos presos: “Quando está na hora de terminar o horário, a gente toca a campainha e ele sabe que tem que se arrumar para sair. Primeiro as mulheres, as esposas e companheiras, depois a gente algema os internos e descemos com eles lá para dentro do presídio”.
O carcereiro Luiz Paulo busca um pouco de liberdade. “É sempre um perigo muito grande subir aqui por vários motivos: pela altura que é, pela maneira que a gente sobe, pela proximidade do morro da Mangueira, já houve vezes que subi aqui e eles mandaram tiro de lá para cá. A gente teve que descer aqui correndo. É até interessante a gente subir aqui porque a gente, no meio de um monte de internos que cometeram as maiores atrocidades possíveis na rua. Aí a gente chega do lado desse inferno e vê esse paraíso que é o Jardim Zoológico”.
Domingo que vem você vai passar uma noite na prisão.
17h45 - O jantar e servido no presídio Evaristo de Moraes
“Hoje a janta dos presos é arroz, feijão, carne moída e angu. É a mesma janta que nós, os agentes penitenciários, vamos comer também. Tô cheio de fome, mas essa carne moída não dá, sinceramente. Essa não desce... Com isso, a gente perde qualquer apetite”.

19h30 - Luiz Paulo da Silva começa o "confere" dos presos
“A gente vai começar o segundo “confere” do dia. Waldemir Caetano, Argel Ferreira, Wilto Lareti...” (fecha a cela)

21h - O carcereiro faz a primeira ronda noturna
“Nesse horário, os presos estão todos com as atenções voltadas para a televisão. As celas do presídio Evaristo de Moraes não têm teto. Os presos simplesmente sobem no muro e, através do muro, eles passam de uma cela para a outra, andando naturalmente. Eu percebo que eles estão quietos demais, então eu dou uma verificada mais de perto. É um horário crítico. Geralmente é o horário em que eles elaboram planos de fuga, cavam buracos. (gritos) Quando tem uma gritaria dizendo “boi na linha” é porque os internos sabem que tem agentes dentro de alguma cela. Graças a Deus, tudo está tranqüilo, foi uma desconfiança falsa. Agora, posso tomar um banho, dar uma descansada e às 5h eu tenho que estar de pé de novo para continuar o serviço“.

6h - Acaba o descanso
“Faltam pouco menos de duas horas para acabar o meu plantão. A nossa última atividade é o café. Para o café saem bem menos presos do que para o almoço ou a janta, até porque eles ficam acordados durante a madrugada e de manhã cedo na hora do café eles não levantam”.

7h20 - Luiz Paulo está há quase 24 horas na prisão
“Daqui a mais uns 40 minutos, como a gente costuma dizer, o nosso alvará vai chegar. Acabou o plantão, o “confere” bateu, está tudo sob controle. A preocupação agora se volta par a rua, o local em que a gente tem que estar tão atento ou até mais do que o normal. Até porque a possibilidade de encontrar um ex-preso é sempre constante. Quando a minha mulher me vê inteiro é uma felicidade só“.
*Matéria para o fantástico em fevereiro de 2011.

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